segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Eu conheci a Messejana de antigamente!

MESSEJANA, UMA TERRA QUE MUITO BEM NOS ACOLHEU
Partindo de uma conversa com uma amiga, comentei alguns fatos, locais, pessoas e casos desde que cheguei a Messejana, em 1963 e ela sugeriu que eu detalhasse mais. E assim, com o texto anteriormente publicado sobre o tema acrescentei mais algumas passagens e fatos que certamente farão que você embarque em uma viagem a um passado distante, mas ao mesmo tempo inesquecível em nossas vidas. Vamos juntos entrar em uma espécie de Túnel do Tempo! Os itens não estão em ordem cronológica e tem o objetivo apenas de avivar a memória de um tempo realmente muito bom de nossas vidas.  

Seguem-se locais, atividades e pessoas que merecem um destaque especial. Portanto é bom falar de Messejana, uma terra que me recebeu muito bem e que pude curtir tudo aquilo que eu não fazia em São José dos Campos, minha cidade natal, como jogar “bila” (bolinha de gude) em frente de casa ou colocar navios de papel nas enxurradas, perto das calçadas e jogar um futebol com os colegas, além de brincar de cowboy e muito mais, conforme veremos Que tempos inesquecíveis. Apertem os cintos!

UMA VIAGEM DE MESSEJANA PARA FORTALEZA
Quando hoje em dia nós estamos em Messejana e dizemos “Vamos para Fortaleza”, os mais novos estranham e dizem que nós já estamos em Fortaleza. O costume de falar assim decorre da distância entre Messejana e o centro da cidade de Fortaleza, que não mudou até hoje, mas sim as condições da estrada, hoje BR-116, duplicada, que nos tempos mais remotos era uma via simples de mão dupla, muito estreita por sinal.

Quem saía de Messejana em direção à Fortaleza passava pelo Convento dos Capuchinhos, em seguida ficava o bairro Cajazeiras, antes do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), depois um estirão passando pela Cidade dos Funcionários, ponte do Rio Cocó até a Aerolândia (quem não lembra o Clube Recreativo da Aerolândia, o CRA?) e depois o ATAPU, nome que ficou conhecido a entrada para Fortaleza? Pois bem, Atapu era o nome de uma padaria que ficava na esquina da Avenida 13 de Maio, com a Avenida Visconde do Rio Branco e ficou conhecido como referência para muitos. O percurso era demorado. Quando, por exemplo, fui realizar o meu alistamento militar acordei pela madrugada e fui para a pracinha. Dei sinal para um caminhão, carregado de pedra, que vinha de Itaitinga e o motorista me deu carona em cima das pedras. Desci do caminhão no ATAPU e fui andando até o 23º BC ou 10º GO para me alistar. Deu tudo certo, apesar da viagem um pouco sofrida, uma verdadeira aventura. Outra vez em uma greve de ônibus eu estudava no Colégio Cearense. E saímos para Messejana ao final da aula, pela manhã, a pé. Seguimos com muito sacrifício e conseguimos pegar uma carona apenas perto do DNER, que facilitou nossa chegada. Mesmo assim chegamos mais de quatro horas da tarde, exaustos. O ponto mais movimentado dessa viagem de Messejana à Fortaleza ficava nas intermediações da Aerolândia, local onde ocorriam acidentes com mais frequência.

O CLIMA DE MESSEJANA
Parece brincadeira, mas não é. Quando cheguei à cidade de Fortaleza, em 1960, a capital tinha poucos prédios! Descendo da praia do Futuro avistávamos pouquíssimos edifícios, bem no centro da Aldeota. Com essas condições a ventilação se estendia para o sul de forma bem forte e tranquila. Às madrugadas e manhãs em Messejana nós podíamos contemplar até neblina! E quando chovia era para valer mesmo. Na Estrada do Fio se formavam enxurradas e dava para a criançada toda fazer barcos e se divertir muito.

ARES INTERIORANOS
Messejana tinha todas as características de uma cidadezinha de interior. Muito pacata, por sinal. Uma de nossas diversões era brincar de cowboy e jogar botão, mais tarde times de campinho um pouco maiores. No meio da rua o pessoal fazia as traves com tijolos e o jogo se estendia por muito tempo. Detalhe: de vez em quando alguém se abaixava, colocando o cotovelo no chão e apoiando a mão na cabeça, tal qual índios faziam nos filmes, para ouvir o barulho de algum carro se aproximando. E dizia: vem um caminhão aí, pessoal. Uns quatro minutos depois o tal caminhão aparecia ao longe e retirávamos as traves para que ele passasse. Depois disso o jogo continuava no mesmo ritmo.

MUROS BAIXOS E PLENA SEGURANÇA
Os muros das casas eram baixos, não havia cerca elétrica, pichação, nem nada que perturbasse nossas vidas. Muito raramente um roubo de uma roupa estendida no quintal e quando se sabia de uma tragédia, também coisa rara, seria por conta de um afogamento da Lagoa de Messejana. E muita gente ia presenciar a ação de bombeiros para atender a ocorrência. A segurança era tanta que fazíamos já adolescentes serenatas pelas madrugadas, nas casas de nossas amigas ou paqueras, na santa paz. Na realidade assalto era uma palavra quase desconhecida para todos nós.   Até hoje encontro algumas pessoas que dizem ter assistido muito os ensaios do Conjunto Big Brasa do muro!

AS REDONDEZAS DA ESTRADA DO FIO
A famosa Estrada do Fio ficou assim chamada por causa da fiação antiga existente dos tempos do telégrafo! De Messejana, em direção leste, ia sair diretamente no Distrito de Mangabeiras, visto que não havia ainda a Washington Soares, que continua na CE-040 hoje em dia. Quem seguia de Fortaleza para Aquiraz, que foi antigamente uma das capitais cearenses, tinha que passar por dentro de Messejana.  A Estrada do Fio era de piçarra e barro mesmo. Nos invernos ficava mais difícil o trânsito dos poucos veículos e por vezes as máquinas de terraplanagem vinham consertar os estragos, nivelar tudo para o verão cearense. Perto de nossa esquina funcionava a Bodega do Seu Paulo, que também vendia caldo-de-cana e gêneros diversos. Construção bem antiga, balcão de madeira. Lembro que os carregadores de caminhão que por ali paravam e faziam suas refeições, de um detalhe que eu ficava impressionado: eles jogavam uma farinha amarela em cima do balcão, para isolar do fogo e colocavam álcool em cima. Com as chamas baixas assavam pequenos peixes que comiam com banana, farinha etc.

Ainda perto existiam poucas edificações e muito mato, na verdade. Em frente à nossa casa começava um mangueiral, lugar onde começava a nossa caçada de passarinhos. Alguns meninos utilizavam as conhecidas baladeiras para atentar os pássaros. Não havia ainda a consciência de que não deveríamos atirar pedras nos passarinhos... Nossas caçadas às vezes começavam pela manhã, com direito a sair de casa com uma mochila com alguma coisa para comer e água, além do material necessário para a caçada. A região, por incrível que possa parecer, era quase deserta e com muitos terrenos e matagais. E assim nós andávamos quilômetros procurando passarinhos para caçar. Nas chegadas tínhamos que tratar as pernas com mercúrio cromo, cheias de espinhos e arranhões provocados pelo mato. Nunca houve nenhum incidente, por menor que seja.

COBRAS ENTRANDO NAS CASAS?
Muito comum ouvir alguém dizendo: “olha uma cobra ali”, ao que se seguia uma intensa busca para eliminar o perigo. Eram cobras, que de vez em quando entravam em nossas casas! Cansamos de encontrar uma cobra jararaca dentro da casa e sempre alguém dizia: ela deve estar com a mãe, significando que deveria ter outra... Mesmo assim nunca soube de nada grave que tivesse acontecido neste aspecto, tirando o alvoroço e os sustos, é claro.

BRINCADEIRAS DIVERTIDAS
Na primeira semana em Messejana recebi em nossa casa um vizinho, que depois se tornaria um dos melhores amigos de infância. E ele me perguntou, em tom bem sério: - “Você pode me emprestar a estrela de Xerife?” E eu emprestei, para que brincasse de cowboy.  Muitas vezes eu fazia paraquedas com lenços de cabelo da mamãe. Feitos de nylon eram leves e dava para amarrar os fios e fazer paraquedas muito bons. Como pesos eu usava soldados de brinquedo ou simplesmente amarrava umas pilhas de tamanho grande. Assim, os dobrava e jogava para cima para ver o espetáculo. O paraquedas abrindo e a diversão seguindo... Não sei bem se o amigo Ruy Câmara lembra-se disso, tendo em vista que um dos locais de pouso ficava ao lado da casa dele.  

DIVERSÃO GARANTIDA COM A CHEGADA DOS CIRCOS
Acompanhei a passagem de alguns circos em Messejana, com nossa turma comparecendo em peso! As bailarinas nos intervalos circulavam pelas arquibancadas, nos oferecendo suas fotografias em tamanho bem pequeno, para que comprássemos. E todos nós gostávamos muito daquelas lindas artistas trazendo novidade para o nosso bairro. Espetáculos com bons palhaços, trapezistas e até números de mágica e de levitação!

PARQUES DE DIVERSÃO NA PRAÇA DA MATRIZ
Outra atração muito procurada eram os parques de diversão que se instalavam na parte de baixo da Praça da Igreja, no lado da Lagoa de Messejana. Alguns tinham rodas gigantes (não tão gigantes assim), além de brincadeiras como pescaria, tiro ao alvo e também jogos como os de roleta. Eu presenciei uma das vezes o “Dico”, jogador de futebol que gostava de jogar na roleta, verdadeiramente “alisar” o dono do jogo, que interrompeu a roleta antes do horário! O Dico parece que tinha uma técnica especial para jogar ou então conhecia bem as manhas da banca de roleta e acertava bastante. Neste dia ele fez a festa e ficou sendo o nosso ídolo daquele jogo, por ter falido a banca de roleta...  

O POSTO TELEFÔNICO
Praticamente isolada pela falta de telefone, poucas pessoas tinham poder aquisitivo para ter uma linha telefônica em sua residência! Os aparelhos eram aqueles pretos, grandes e tinham uma manivela ao lado que servia para acionar a campainha do posto telefônico. Que tecnologia! E mesmo assim as ligações eram feitas da seguinte maneira: quem tinha telefone em casa levantava o fone do gancho, acionava a manivela e a funcionária do posto telefônico atendia. Então era pedida uma ligação e a atendente dizia que quando completasse nos chamaria. Fornecido o número a ser chamado, era só esperar. Com a ligação completada através de uma mesa telefônica manual e analógica, a atendente chamava o número e dizia que ia passar a ligação. O único telefone perto de nossa casa era o da Dona Nadir, da família Freitas, a qual sempre, gentilmente, nos dava a oportunidade para pedir alguma ligação, assim como mandava alguém para nos chamar quando ligavam para nós. O posto telefônico ficava na Rua Padre Pedro de Alencar, trecho da antiga BR-116, a um quarteirão da Lagoa de Messejana.  As dificuldades de comunicação eram grandes!

O PADRE PEREIRA
O Padre Pereira era o vigário de Messejana nos idos de 1963. Muito espirituoso, inclusive tem algumas passagens conhecidas pelos messejanenses. Uma delas, quando ao reclamar das conversas ao lado da Igreja na hora da missa, no meio de seu sermão bradou: “E Jesus disse aos seus discípulos... Interrompendo: “cala a boca aí fora menino!”, e continuou o sermão normalmente.
Em princípio, como tinha sido coroinha quando morava no bairro 13 de Maio, antes de nossa mudança para Messejana, cheguei a ajudar algumas missas com o Padre Pereira, mas desisti no dia que levei um “carão” dele certamente por ter invertido uma das orações (eram em Latim e a gente conhecia apenas a sequência). Uma hora ele me disse: “Reza direito, menino” e me mandou para a Sacristia. Foi a gota d’água e eu desisti daquela função. 

FUTEBOL NO PATAMAR DA IGREJA
Joguei muito futebol no patamar da Igreja, à noite, com os colegas. Diversão garantida. Quer fosse permitido ou não, o fato é que a nossa turma se reunia acho que nos finais de semana para jogar bola e brincar no patamar da Igreja Matriz, o ponto mais iluminado da área. E assim jogamos inúmeras vezes até que um dia uma pessoa que se dizia agente de polícia entrou no meio de nós e tomou a bola. Fim de jogo e todo mundo correu mesmo. Não lembro se os jogos continuaram no patamar após essa intervenção, mas sei que continuamos a jogar vôlei na pracinha, local onde todos se encontravam muitas vezes.  

BAZAR DA FRANCISQUINHA LUCAS
Localizado perto da Praça da Matriz, ficava na Rua Padre Pedro de Alencar, onde comprei muitas vezes baralhos e outras utilidades. Ali trabalhava uma atendente muito prestativa (a Mazé) e o Pedro Jorge. No bazar tinha de tudo, praticamente. A exposição das mercadorias era enorme e o que se procurasse tinha!

A GARAPEIRA
A garapeira ficava na mesma pracinha da Matriz, mas do outro lado da BR-116, que em Messejana é hoje a Rua Padre Pedro de Alencar. Não lembro o nome do dono, mas a garapeira era localizada próxima do ponto do ônibus de Messejana por algum tempo. O caldo-de-cana e pastel de queijo era o que mais vendia, logicamente.

RODOVIA BR-116
Vale repetir apenas para os mais novos, que a Rua Padre Pedro de Alencar, que passa em frente à Igreja de Messejana, era a rodovia federal “BR-116” naqueles tempos e passava por dentro de Messejana. A duplicação chegou muito tempo depois e durou mais de quatro anos para ser concluída. Trouxe incômodos, é claro, mas foi uma obra muito necessária, tendo em vista que até passou por fora de Messejana diminuindo assim o enorme tráfego no centro do Distrito.

A AVENIDA PERIMETRAL
Quem sabe onde era a chamada Avenida Perimetral? Nada mais nada menos do que a atual Washington Soares. Mas na época era conhecida somente por Avenida Perimetral e quem vinha de Fortaleza para Messejana tinha que passar ao lado das salinas (toda a área onde foi construído o Iguatemi) e depois seguir em frente em uma estreita via muito perigosa à noite, simplesmente por quase não haver fluxo de veículos. Não existia nada mais a não ser terrenos em ambos os lados. Nada de Centro de Convenções, Unifor etc. Em frente dali a alguns quilômetros, tínhamos as Seis Bocas (onde hoje é o Via Sul) e depois Messejana. Bom dizer que existia outra perimetral que ligava Messejana a Mondubim e que hoje se encontra duplicada. Também muito insegura, pelas mesmas circunstâncias. Os carros de polícia, nas eventuais vistorias ou patrulhas em sua maioria eram fuscas, chamados por nós de Tetéus, que são aves que passam a noite acordadas.

LAGOAS DE MESSEJANA E DA PAUPINA
Tomei muito banho na Lagoa de Messejana, tendo acesso pelo Balneário Clube de Messejana, onde em abril de 1967 estreou o nosso Conjunto Musical Big Brasa. Mas também na Lagoa da Paupina! Ambas tinham água limpa e funcionavam como verdadeiras praias para os messejanenses. Além do Balneário Clube de Messejana existia também um pequeno clube, de uma associação (FACIC) na entrada da lagoa da Paupina, que frequentávamos. Alguém lembra a época em que a Lagoa de Messejana transbordou por muitos dias, cobrindo a BR-116 inteiramente? Foi motivo de acompanhamento e observação de muitos messejanenses. 

BALNEÁRIO CLUBE DE MESSEJANA
Foi o Clube onde o nosso Conjunto Big Brasa fez sua estreia, tocando o prefixo And I Love Her, dos Beatles. Eu e meu pai fomos sócios proprietários do Balneário Clube de Messejana. Frequentei o clube muitas vezes e depois passaria a tocar nele, com o nosso Conjunto Big Brasa (inúmeras vezes). O Clube chegou a realizar grandes festas com orquestras do sul do país, renomadas. As tertúlias e as matinais também deixam saudade. Cheguei a tocar até um carnaval no Balneário, com o Conjunto Big Brasa, além das centenas de matinais e tertúlias e outras comemorações.  Vale lembrar o “Coquinho”, um dos garçons gente muito boa que sempre atendia a nossa turma.

RADIOAMADORISMO – o celular de hoje em dia
Quem tinha um aparelho de radioamador em seu carro significava poder contatar muitas pessoas em diferentes situações, em especial nas emergências. Viajei de carro para Brasília, pelo Maranhão, Tocantins, podendo falar com todos os colegas o tempo inteiro, se precisasse. Bastava apenas trocar as antenas. Mas, perto de casa, ainda com estação móvel, existia o “beco”, que hoje é uma rua muito movimentada. O beco, entre a Estrada do Fio e a Rua Manoel Castelo Branco, servia como ponto estratégico muito bom para os contatos locais e com outros países, através do radioamadorismo, por não ter interferências da rede de energia elétrica. Consegui falar com mais de 170 países nesta fase, além de participar da Rede de Emergência do Ceará, auxiliando os órgãos de segurança. Meu prefixo era PT7-JSN e PX7-10.245. Minha estação, potente, chegava com facilidade à praticamente todos os locais. Cheguei a fazer um QSO (contato) com uma cidade japonesa, o que significa que o sinal de rádio foi até a ionosfera, baixou para o oceano, subiu de novo até chegar à outra cidade. O contato foi muito breve porque a propagação caiu, mas recebi a comprovação, com o cartão de QSL do amigo radioamador japonês. Tinha uma antena direcional de 12 metros de largura, que cobria a casa quase que toda. E uma torre de 25 metros para as frequências de 2 metros. Conto estes detalhes para quem usa hoje com os celulares, saber das dificuldades da época e como o radioamador poderia ser útil em várias situações. 

FUTEBOL DE BOTÃO
Jogamos muito, com o Luís Peixoto (irmão das amigas e vizinhas Auristela e Auricélia), Pedro Sérgio e José Wellington, o Sérgio Alves e o Amaury Pontes. Eram partidas animadíssimas, nas quais nós mesmos ao jogar “irradiávamos” o jogo! Os campeonatos eram muito disputados. Ainda hoje tenho um time “Ceará” feito com capas de relógios, nas quais colávamos as fotografias dos jogadores retiradas dos “quadros” dos jornais.

FUTEBOL DE CAMPO
Tive um time! Camisetas brancas, bem simples, pintadas com tinta a óleo preta, com apenas algumas listas transversais. Nosso pessoal jogava no campinho, localizado em um terreno quase em frente à nossa casa. Todos ajudaram a fazer o campinho, com traves e tudo. Alguns times da Paupina apareciam para jogar. Em uma dessas ocasiões o time adversário colocou um jogador bem mais velho do que nós. Deveria ter mais de 18 anos e ficou um jogo desproporcional. Começamos a perder feio. Foi aí que o nosso grande amigo de infância Célio Freitas (in memoriam), entrou em nosso time e conseguimos ganhar o jogo pela participação dele! O Célio e eu, nas férias escolares, jogávamos baralho quase todas as manhãs. Ele tinha uma caderneta e anotava todas as partidas, assinando aquelas que ele ganhava, ou seja, quase todas. Eu voltava para casa frustrado, mas ao mesmo tempo com vontade da revanche no dia seguinte.

O ZÉ DA SENHORA
Quem conheceu o Zé da Senhora? Era um jogador do time Messejana, salvo engano. Quando ganhei meu primeiro violão, não sabia nem afinar as cordas. E fui até à casa do Zé da Senhora por indicação de um amigo. Ele me recebeu em sua casa e com toda boa vontade afinou o violão, passando as dicas de afinação. No outro dia novamente eu estava lá para conferir. E aproveitei para começar a aprender a Marcha dos Marinheiros, que ele tocava muito bem. E assim foram algumas vezes até que eu aprendesse alguns solos com ele. Minha eterna gratidão por essa pessoa amiga!

O BALNEÁRIO CLUBE DE MESSEJANA
Localizado às margens da Lagoa de Messejana, na qual, segundo a lenda, e o escritor José de Alencar, Iracema, a “virgem dos lábios de mel”, tomava banho e saía correndo até a Praia de Iracema, chegando a seu destino ainda com os cabelos molhados, tal a sua rapidez. O Balneário Clube de Messejana tinha uma extensa área verde ao redor do salão, bem arborizada, formando um espaço muito agradável para seus frequentadores. O clube possuía uma arquitetura simples, sendo amplo e bem estruturado, no que se refere ao salão de dança e palco. Deixava a desejar pela precariedade de suas instalações de secretaria, bar e da própria fachada.

A vista do Balneário era muito bonita, tendo como cenário a belíssima Lagoa de Messejana, que às tardes nos proporcionava um pôr-do-sol magnífico, com cintilantes reflexos em suas águas. Nas manhãs dos sábados e domingos, podíamos ver algumas velozes lanchas circulando a lagoa, em passeios que deviam ser muito agradáveis. Naquela época, como ainda hoje, aquilo era privilégio de gente rica. Nossa turma frequentava o Balneário para jogar pingue-pongue, tomar banho de lagoa, jogar bola, paquerar e dançar nas tertúlias. Praticamente toda a pequena comunidade de Messejana se encontrava no Balneário. Todo mundo se conhecia. Vivemos, sem sombra de dúvidas, a fase áurea do Balneário de Messejana. Nessa época tínhamos uma Comunidade, na verdadeira acepção da palavra!

O CONJUNTO MUSICAL BIG BRASA
O nosso Conjunto Musical Big Brasa estreou, com sucesso, no Balneário Clube de Messejana, no dia 28 de abril de 1967, véspera de meu aniversário. Vivemos todos os anos do conjunto, um período inesquecível! O Conjunto Big Brasa completou 50 anos de fundado em abril de 2017. O grupo marcou uma significativa presença na televisão cearense, em bailes e outras apresentações em Fortaleza e pelo Nordeste. Realizamos várias promoções musicais e bailes no Recreio dos Funcionários, no Balneário de Messejana e no Tremendão.  O nosso conjunto Big Brasa chegou a tocar um carnaval inteiro no Balneário Clube de Messejana, ocasião que contratamos instrumentistas de sopro para complementar a orquestra carnavalesca.
O meu pai, Alberto Ribeiro da Silva (in memoriam) também se envolveu muito por Messejana tendo sido diretor do Balneário por algumas temporadas, além de ser o mentor do Conjunto Big Brasa. O Conjunto musical Big Brasa, desde sua fundação, em 1967, promoveu muito Messejana. Foi uma iniciativa pioneira, que deixou uma marca de inventivo para outros jovens. No mês de abril de 2017 completou 50 anos de fundação, um aniversário que foi comemorado em vários encontros musicais, inclusive em outros estados.

AMIZADES DE INFÂNCIA
Faziam parte de nossa turma de amigos e amigas o Aderson Alencar, Diony Maria Alencar, Fernando Hugo Colares, Cesar Barreto, Severino Tavares, Roberto Tavares, David Lélis (in memoriam), Luiz Antonio Alencar (o querido Peninha), Ruy Câmara, Dionísio Alencar, Zé Antônio, Luciano Vasconcelos, Salomão Sales, Rita Porto, Aurélio Barroso, Lúcia Ribeiro, Vera Lucia Colares, Didico, Everardo e Jamson Vasconcelos, “Titico” Benevides, Simone, Paulo Afonso, Célia e Eudásio, Liduína Barroso, Yolanda, João Guilherme, Lucinha, Verônica, Auristela, Auricélia e Socorro Peixoto, Fátima Oriá, Célia Alencar, Pedro Ricardo Eleutério (meu amigo - in memoriam) Chico Zé Alencar, Martiniano Coutinho, Penha Amorim, João Dummar Filho, Adalberto Lima, Carló (Carlomagno Lima (in memoriam) Cida Alencar, Solinésio Alencar, Célio Freitas (in memoriam), Loló e Raimundo José Vasconcelos, Antonio de Miranda Leitão, Chico Zé – in memoriam (do Valdir Bento), Adriana Célia, Rosângela Almeida, Adriano e Rogério Almeida, Clodomir, Edson Girão, Miguel Reinaldo, Luís Antonio Alencar e o Luís Antonio Oriá (Dr. Oriá), que estudou comigo no Colégio Cearense, Inácio Oriá, Pedro Sérgio Melo e José Wellington Freitas de Melo, Célio Freitas e muitos outros que a memória talvez tenha deixado escapar momentaneamente.    

O FUTEBOL EM MESSEJANA
Eram dois times principais, o Messejana Esporte Clube e o Salgado da Gama. Cada um com seu estádio próprio. Nas tardes de domingo era uma das opções. Eu tive um pequeno time de futebol com amigos, dentre eles o Pedro Sergio Melo e o José Wellington de Freitas Melo. Jogamos muito no Copacabana, no campinho, no Messejana e batemos bola no Campo do Salgado. Conheci muito o Pinha (in memoriam), que jogou no Salgado da Gama, no América Futebol Clube e também foi contratado para jogar um período em São Luís do Maranhão, onde fez muito sucesso. Por vezes eu fazia ginástica no América Futebol Clube, quando o Pinha jogava na agremiação. Às vezes também joguei bola no quintal da casa do Fernando Hugo (que ficava ao lado do Banco do Brasil de hoje). Bons e saudosos tempos. Vale mencionar também as partidas de futebol de salão na URJA, sempre disputadas. Há alguns anos, através do Portal Messejana cheguei a fazer uma entrevista com o Dodô, um dos principais jogadores da época em Messejana, que jogou no Salgado da Gama e no Messejana Esporte Clube.

O RESTAURANTE TREMENDÃO
Ficava às margens da Lagoa de Messejana e era um recanto muito agradável. Passou por muitas administrações e hoje se encontra com o prédio praticamente em ruínas e vandalizado. Frequentei o Tremendão dezenas de vezes e realizei o lançamento de meu primeiro livro sobre o Conjunto Big Brasa, em 1999, em uma festa muito animada da qual participaram excelentes bandas locais, como Os Faraós, O Túnel do Tempo, Remember Beatles, O Conjunto Big Brasa, com muitos componentes e Os Rataplans.

A FEIRA DE MESSEJANA
Frequentei e ainda vou de vez em quando à feira, considerada uma das maiores do Ceará. Lá se encontra de tudo! Havia uma loja, localizada na praça da feira, que era do Sr. Alfredinho. Muito boa e cheia de utilidades. Era uma das melhores. A feira expandiu muito e ainda nos dias atuais é muito grande, com uma variedade de produtos impressionante.

SERENATAS
Naquela época em que havia mais romantismo, com músicas que possuíam melodias e letras rebuscadas, fizemos muitas serenatas para nossas colegas, uma época em que a tranquilidade reinava em Messejana e podíamos nos divertir em paz. Fizemos muitas serenatas para as colegas de infância e juventude. Não posso esquecer e destacar um fato pitoresco que aconteceu com nosso grupo de amigos em uma serenata: na casa da família Pompeu, ao tocarmos aquela música que dizia: “Vento que balança, as palhas do coqueiro”... Muito bem, nesta hora o Luciano Vasconcelos subiu em uma das palhas do coqueiro anão, existente no local e começou a fazer uma sonoplastia, balançando as palhas. Não esperava que elas não suportassem e de repente foi ao chão, quando todos riram incontrolavelmente e a serenata se desfez. Uma vídeocassetada, na realidade!  

A FARMÁCIA DO SEU ROCHA
É importante destacar que eu conheci muito o seu Rocha, que era uma excelente pessoa e um farmacêutico que me ajudou muito em minha infância e juventude. Messejana era longe de tudo e pessoas como ele ajudavam a população local demais. Prestou inestimáveis serviços para a comunidade de Messejana. E hoje em dia sou amigo dos filhos dele, em particular o Kildare Rios, um excelente músico. 

O DR. JOSÉ MAURO
Quem não lembra o Dr. José Mauro (in memoriam), um bom dentista que tinha seu consultório na Rua Joaquim Bezerra, na Praça de Messejana. A maioria de nós se valeu dos bons serviços prestados por ele.  

A CRISMALHAS
Conhecemos muito o Seu Vasconcelos (da CRISMALHAS - quem lembra?). Pai do Luciano (Ciano Vasconcelos), Jamson Vasconcelos e Everardo Vasconcelos, todos bons amigos até hoje. Uma curiosidade: estava eu em Manaus, na Zona Franca, quando ao fazer algumas compras eu avistei uma camisa, em um mostruário, que para mim era a mais bonita de todas. Pedi imediatamente para o vendedor me mostrar. E ao examinar a bonita camisa notei a etiqueta, que dizia “Crismalhas – Messejana – Fortaleza – Ceará”. Era uma das camisas que a fábrica usava para exportação! Belíssima.

MATERNIDADE DE MESSEJANA
A Casa de Saúde Maternidade Jesus Sacramentado, ou simplesmente a Maternidade como chamávamos, era praticamente a única solução de atendimento médico em Messejana, tendo em vista que ainda não existiam o Frotinha, Gonzaguinha, as UPAs etc. Todos a ela recorriam para os diversos fins, fraturas, exames, consultas e tudo relacionado à saúde, mas principalmente atendia às gestantes e aos partos. Prestou inúmeros serviços à comunidade messejanense e bairros adjacentes. Localizada na Rua Pergentino Maia e pertencia ao Dr. Parayba – in memoriam.

AS OFICINAS DE CARROS
Temos que destacar as oficinas do Faúna, que ficava na BR-116, quase em frente ao Seminário Seráfico, local que passamos muitas horas para consertar nossos jipes e outros transportes, no início. Havia também a oficina do Zé Amarelim, como era chamado, que ficava perto do posto de gasolina da Família Serpa, embaixo de umas mangueiras. Ali trabalhava o mecânico “Maracanã”, que naquele tempo, quando era chamado para consertar os nossos carros, dizia antecipadamente, sorrindo: “pode comprar um condensador e um platinado”, sem nem verificar o defeito... E todo mundo ria disso.

A DONA CHIQUINHA
Em vez de ir ao Shopping como fazemos hoje em dia, tínhamos a Dona Chiquinha! Ela fazia nossas camisas e calças. E muito bem, porque o seu trabalho era sempre caprichoso e de grande perfeição. Ainda mora em Messejana. E a ela somos muito gratos.

O SEU CAPOTE
Era um bom torneiro mecânico e muito solicitado por todos para os reparos nos motores e tubulações em nossos poços. Possuía as chaves inglesas bem grandes, capazes de trabalhar com canos largos e isso era fundamental.

O FAMOSO “SEU ZÉ”
Andei muito de ônibus com o “Seu Zé” (Zé Bitu), motorista calmo e gente boa, que nos levava ao Colégio Cearense todos os dias. A turma dizia sempre para ele “tira o pé do freio, Seu Zé!”, porque ele dirigia sempre com a velocidade normal e correta! E deixava a gente ir na frente, encostado no motor, quando não havia mais lugar. O Seu Zé, pelos cuidados que mantinha com os veículos que dirigia, era contemplado sempre com os ônibus novos que eram adicionados à frota.

OUTRAS BRINCADEIRAS
- Montamos triciclos, com o Luciano Vasconcelos (junção de duas bicicletas) e conheci um poço que dava vazão a gasolina por um período – (descobrimos o mistério depois: era por conta de um vazamento da bomba de gasolina do pai do Zé Antonio, da Panificadora Nogueira, cujo depósito teve uma avaria e começou a vazar).
- Fazíamos, por pura brincadeira, umas passeatas cantando e segurando velas, como se fosse alguma seita. O Luciano Vasconcelos certamente lembra como eram. Normalmente iniciadas em frente da antiga casa dele, na Avenida Frei Cirilo, até a pracinha da Igreja;
- Frequentei também algumas vezes o Zé Leão para comer bifes com coca-cola;
- Jogava sinuca com colegas e amigos, inclusive o Sr. Crispim (in memoriam), que era o dono da Farmácia) bem em frente onde é hoje a farmácia principal da família; conheci também o Seu Neto (farmácia na pracinha).
- Fui muitas vezes acampar na Abreulândia (era a maior tranquilidade), passei finais de semana na COFECO, fui festas no clube de lá também;
- O barzinho “SUBMARINO AMARELO”, na estrada do fio onde nossa turma se encontrava muitas vezes antes de sair em nossos jipes para passear!

COLÉGIO JOSÉ BARCELOS – O “TREM”
Estudei três anos no José Barcelos. Alguns dos professores que lembro: Isolda (inglês), João Batista (Ciências), Sérgio Benevides, Paulo Aguiar (Matemática), Zuleika Oriá, Bartolomeu Brandão dentre outros. O Sindô (não sei a grafia se está certa) era o vigia e porteiro. A Dona Célia Benevides foi uma das diretoras na época.

A MÁXI INFORMÁTICA
Uma iniciativa pioneira surgiu mais uma vez quando montamos, mais à frente, a primeira Escola de Informática de Messejana - a MÁXI INFORMÁTICA, que atendeu e formou mais de dois mil alunos. Ainda hoje recebemos ligações telefônicas de ex-alunos procurando seus Certificados, uma segunda via, ou mesmo querendo fazer cursos de informática.

O PORTAL MESSEJANA
Criamos depois o Portal Messejana (que é o sítio na internet do Instituto Portal Messejana, que tem a finalidade de divulgar Fortaleza e o Ceará. Atualmente o Instituto Portal Messejana é uma entidade de utilidade pública, uma Associação sem fins lucrativos, reconhecida pelo governo federal, estadual e municipal (uma OSCIP);

MESSEJANA, UMA TERRA QUE MUITO BEM NOS ACOLHEU
É a frase que iniciei este texto e que acrescento novamente ao final. Um abraço aos amigos e amigas e se Deus quiser ainda faremos mais alguma coisa aqui pelo bom distrito de Messejana. 


João Ribeiro da Silva Neto
Em novembro de 2019

domingo, 1 de setembro de 2019

Tempos de minha infância!


Há muitas recordações de minha infância que se mantêm de forma nítida, outras com traços menos fortes de memória, mas todas elas vívidas em nossa existência com marcas sempre presentes.

De São José dos Campos, São Paulo, minha cidade natal, eu recordo bem de nossa casa, a casa de minha avó e dos meus tios, da entrada grande, com muitas laranjeiras aos lados, do grande quintal, que ligava à casa de meu tio e de minha avó. Entretanto, lembro de poucos momentos em que nós brincávamos com colegas. Tudo era bastante diferente do que conhecemos aqui no Nordeste, a partir do clima, bastante frio. A maioria de nossos vizinhos era de origem estrangeira e, portanto, com outros costumes e cultura. Frequentei por alguns meses uma escola de Judô, de japoneses. Aprendi o básico, as maneiras de cair, alguns golpes de defesa etc. Gostava muito e não lembro o porquê da interrupção das aulas.

Convém falar sobre São José dos Campos, no Vale do Paraíba, que é o município sede de empresas como a Embraer, a Panasonic, General Motors e diversos institutos como o INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, dentre vários outros órgãos importantes para o Brasil. Da cidade lembramos vagamente da Igreja de São Dimas, a qual o meu pai ajudou em uma das reformas com monsenhor Ascânio Brandão e do seguinte detalhe: que naquela igreja ficou um dos sinos com os nomes de meus pais gravados, Alberto e Zisile. Como vistas da cidade recordo do Banhado, um vale muito bonito, local que podia ser apreciado de um dos pontos principais da cidade. Também os passeios que eventualmente o Tio Raimundo me levava, o Riacho Vidoca; lembro também que assisti a um show da cantora Celly Campello; do Bar Pequeno, na entrada da Vila Ema, que não sei se ainda existe. A empresa de ônibus de São José para São Paulo se chamava Pássaro Marrom. Em minha última visita à cidade, eu a encontrei muito diferente, extremamente mais desenvolvida e movimentada, continuando a ser uma das maiores cidades paulistas.

São José dos Campos oferecia muita segurança: aos oito anos eu estudava no Grupo Escolar Olímpio Catão, no centro da cidade e pegava o ônibus sozinho, da Vila Ema até a escola! De calças curtas, fardado, eu ficava na parada esperando o transporte, incomodado às vezes pelo frio em determinadas épocas. Mas os veículos eram novos, limpos e não havia praticamente perigos de segurança como hoje em dia. Ia para o colégio e voltava sem problemas. Em alguns dias, com colegas de quem não lembro os nomes, descia na Esplanada, que hoje é um bairro, mas que naquele tempo eram campos gramados apenas, nós chegamos facilmente a laçar dois cavalos e neles andar um pouco. Para que tenham uma ideia, a subida nos animais era feita do muro da casa de meu tio Raimundo. Tudo escondido, até que um dia o dono dos animais nos viu, tomou a cordinha que amarrava os dóceis cavalos e ainda de brinde (tomou) as almofadas de meu tio, que usávamos em lugar de uma cela, depois de me passar um carão...  

Comecei a ler cedo, aos quatro anos e pouco. A televisão, que os meus pais possuíam, era uma de 14 polegadas, gabinete metálico e vermelho. Minha mãe me contava que eu prestava bastante atenção aos “slides” das propagandas, que facilitaram muito a associação de palavras e a leitura. Aliás, tenho que agradecer os inúmeros livros que eu li, todos comprados pela mamãe, Zisile ou presenteados. Dentre eles Contos de Andersen, de Grimm, a coleção completa de Monteiro Lobato, outra coleção “Antes que aprendam na rua” além da famosa enciclopédia “Tesouro da Juventude”. Sobre os livros, com toda certeza foram eles que me favoreceram a passar em concursos importantes na minha vida profissional. Eu me habituei e sempre li muito, na infância e por toda a minha vida.

A música: também iniciei os estudos de acordeon com a saudosa Dona Ivone, isso já aos sete anos. Tocava as melodias no teclado (Rosa Maria foi a primeira música) e ela segurava o acordeon e fazia o acompanhamento  nos baixos. Depois ganhei um de oito baixos de minha mãe, a qual só viria a ser substituída por uma de 80 baixos anos depois! Assim, eu levava o primeiro acordeon para a casa de Dona Ivone, estudava a aula com ela e voltava para casa na rua, tocando a música aprendida!

Dos brinquedos, lembro que eu tinha praticamente tudo o que eu criança poderia desejar, como pequenos carros militares, ambulâncias, aviões, soldados, índios, fortes, postos de gasolina e outros. Eu os distribuía em meu quarto para brincar, quase sempre sozinho.  Tinha uma bola, luvas de goleiro, mas não tinha um time nem colegas para jogar. Tivemos sempre animais de estimação, o nome Babu permanece até os dias atuais para os gatos e Rajá para os cães.

Os principais primos que mais recordo são a Rita de Cássia, a Mônica, o João Ribeiro da Silva Sá e a Maria Lúcia. Além do querido Tio João Ribeiro da Silva Filho (meu padrinho) e da Tia Maria, esposa dele. Ambos os tios, Raimundo e João, eram também grandes amigos de meu pai e eu gostava muito deles. Na foto ao lado, em frente de nossa casa, estou com a prima Mônica, a Rita de Cássia, o meu irmão Getúlio e dois outros colegas que não lembro mais os nomes. 

Dentre os diversos primos militares de nossa família alguns deles passavam as folgas de estudo conosco, em nossa casa. Principalmente o Wagner Ribeiro e o João Ribeiro da Silva Júnior (In memoriam) que se formaram na Academia Militar das Agulhas Negras, a AMAN, localizada em Resende (RJ), que é o único estabelecimento de ensino superior que forma os oficiais combatentes de carreira das armas de Infantaria, Cavalaria, Artilharia, Engenharia e Comunicações, do Quadro de Material Bélico e Serviço de Intendência do Exército Brasileiro. O Pedro Augusto da Silva Neto, também meu primo, morava em Lorena e nós chegamos a visitá-los algumas vezes. Lembro que ganhei um capacete do Exército de meu tio, Pedro José da Silva Neto, então Coronel. Como gostava muito de acessórios militares, afinidade que guardo até hoje, foi um presente que gostei muito! Fui à AMAN com meu pai e meus tios a algumas solenidades de entregas de espadim ou de espada aos cadetes e oficiais. Lembro muito dos desfiles e dos alojamentos que eles me levavam para conhecer. A organização era impecável, festas bonitas.  

Muita diferença de hábitos eu senti quando fui passar umas férias na cidade de Balsas, Maranhão, onde meu pai nasceu. Empolgava-me com todas as novidades, entre elas a “lamparina” (pois a energia elétrica era provida de uma usina que funcionava até as 22 horas apenas). As brincadeiras com bolinhas de gude, carrinhos e aviões feitos com buriti, andar de bicicleta e ter colegas para brincar. Eu ficava admirado também pela maneira com que eram vendidos os refrigerantes, todos em sacos com raspa de madeira dentro para não quebrar.

Após nossa mudança para Fortaleza, no final de 1960, no início estranhei um pouco. Primeiramente pelos ônibus, que eram aqueles antigos, com frentes de caminhão. E a maioria deles velhos e não tão limpos quanto os de São José. Nas ruas eu via as placas “Beba Tai” e também ficava admirado... Isto porque “Tai” em São José dos Campos era uma marca de água sanitária e eu pensava, como o pessoal pode beber Tai?

Moramos inicialmente em Fortaleza no Bairro de Fátima, em uma rua ao lado do Ginásio Nossa Senhora das Graças. Depois mudamos para um apartamento no final da Costa Barros, que ficava em um prédio em frente ao Arcebispado. Nossas brincadeiras eram por perto da Igreja da Sé, ao redor, a maioria de “xerife” e cowboys. Posteriormente outra mudança para a Rua Mário Mamede, bem perto da Igreja de Fátima, uma temporada muito boa. Estudei em vários colégios, por causa dos deslocamentos, entre eles o Santa Lúcia, o Castelo Branco, o Colégio Cearense (marista), o José Barcelos, esse mais adiante.

Mais tarde, já bem ambientado e gostando muito da mudança para Fortaleza, onde melhorei muito minha saúde por causa do excelente clima, passei a morar em Messejana, com todos os encantos daquela época, muita segurança, trânsito calmo, clima agradabilíssimo, colegas para brincar e até formar um time de futebol, com nossos amigos e vizinhos. Brincar de “cowboy” era muito legal. E depois, um pouco mais adiante, jogar botão com times de “capas de relógio”, nas quais colávamos as fotografias dos jogadores de nossos clubes (o meu sempre foi o Ceará Sporting Club, hoje o nosso “Vozão”). Os campeonatos eram realizados em nossas casas, especificamente nas residências do Pedro Sérgio e Zé Wellington, na do Luís Peixoto e em nossa própria casa. Dos times de botão para o futebol de salão, no Colégio Cearense (onde fui campeão em 1965) e nos campinhos perto de casa, com as camisetas compradas de marcas simples e pintadas com tinta a óleo...  Foi em Fortaleza que efetivamente tive os meus primeiros contatos efetivo com a comunidade, através da interação com colegas de infância e mais futuramente também com muitas pessoas, quando na juventude participei do Conjunto Musical Big Brasa.

Minha infância foi muito feliz e dela tirei alguma iluminação, sem dúvida, além dos registros significativos que possuo até hoje. Partindo do princípio de que a felicidade não é constante, mas sim ela nos chega de ciclos em ciclos, assim como tudo mais em nossa existência, fica a minha eterna gratidão aos meus pais, em primeiro lugar, pela formação e exemplos que me transmitiram e que foram e estão sendo por demais úteis na minha vida. Agradeço também a todos que delas participaram, de uma forma ou de outra, na certeza de que tudo valeu muito, inclusive recordar novamente e compartilhar com os amigos e amigas.

domingo, 25 de agosto de 2019

Sobre a Iluminação e a Vida

Está disposto a ler este texto? Este pode ser o seu presente, o seu agora!
Há muito que aprender na vida, em todos os sentidos. Sabendo disso despertei meu interesse na Iluminação e tento na medida do possível, através da leitura e vivência, associar alguns conceitos, entender outros, que às vezes nos passam despercebidos em nossa existência. Somos criaturas imperfeitas e temos um curto espaço de tempo para a procura de uma boa convivência com nossos semelhantes e conosco mesmos.

Em primeiro lugar temos que saber que as pessoas de existências passadas eram semelhantes a nós e que não somos superiores a elas na Inteligência. Ou seja, os processos culturais e mentais, além das descobertas tecnológicas foram evoluindo ao longo do tempo. Deste modo se colocássemos uma pessoa da atualidade para viver no passado, há pelo menos três mil anos, sabemos que ela não conseguiria desenvolver nada da tecnologia que temos hoje em todas as áreas. Apenas poderia descrever o que hoje existe, o que acredito que seria recebido com muita incredulidade pelos povos antigos. Tudo foi evoluindo gradativamente, em sociedade. 

E o que é Iluminação? Pelo que percebi é um conceito de que é um estado mental ou de espírito que pode ser alcançado por qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo, independente de seu nível de conhecimento. Este estado é muito difícil de descrever, mas fácil de vivenciar, sendo que seus objetivos principais são melhorar o estado da saúde, reduzir o “stress”, ajudar a melhorar o relacionamento com as outras pessoas, fazer você encontrar sentido para a vida, dentre muitos outros.

Posso afirma que a Iluminação, como a Felicidade, não é um estado permanente na vida de cada pessoa. Por vezes temos estágios ou períodos em que ficamos mais “Iluminados”, assim como é a Felicidade. São ciclos, digamos, que podem fazer parte de nossa vida de tempos em tempos. Segundo Leo Gough, convém lembrar que a iluminação não pode realizar tarefas como: evitar a morte, curar doenças incuráveis, evitar perdas eventuais que as pessoas possam vir a ter. E nos desprendendo de práticas de meditação, oração e outras, podemos afirmar que a Iluminação se prende ao Aqui e Agora, sendo que Agora é o momento importante de sua vida, porque é o momento que você está! A Iluminação busca a sua vontade interior de identificar o Bem e o Mal, fazer suas escolhas morais e resolver tomar suas próprias decisões, de acordo com a sua própria consciência.

Saber com exatidão o valor da vida, de como devemos nos comportar com os semelhantes e ter uma noção de o quanto os seres humanos conhecem de sua existência, o que considero muito pouco. Não sabemos exatamente de onde viemos e nem para onde iremos depois desta meteórica passagem aqui pela terra. E aqui afirmo que não importa se a pessoa crê em Deus ou possui (ou não) crença em religiões ou divindades.

A música Começo Meio e Fim, do grupo Roupa Nova, define uma sequência para o Amor. Eu a utilizaria para descrever a vida humana, mesmo que não saibamos o que vem antes do Começo e o que virá após do Fim. A morte seria o fim? Muitos dos seres humanos têm a esperança da imortalidade, mas ninguém sabe, na realidade, o que se passará depois de nossa existência física. Assim, durante a vida em sua plenitude, devemos nos acostumar ao conceito desta partida, mesmo porque é inevitável. A morte figura como a maior certeza da Vida. Por mais rico, inteligente, importante ou poderoso que uma pessoa seja, em sua morte será equilibrada a todos.

Observar detalhes sobre a nossa existência é por demais importante! Avaliar os hábitos de vida e tudo aquilo que podemos mudar para melhor é uma questão de qualidade de vida. Quanto mais você se analisar, mais conhecerá de si mesmo e logicamente terá oportunidades maiores de obter benefícios com a Iluminação.

Você fica mais iluminado quando identifica um processo que o torna melhor em relação a si mesmo ou a outras pessoas. A iluminação trará certamente benefícios físicos e mentais para sua existência e interação com o mundo e com as pessoas. É importante assimilar a ideia que o ser humano não é a criatura mais importante do Universo, estando longe disso, por suas falhas e imperfeições. E que nós não somos as criaturas mais inteligentes do cosmos.      

É importante, independente de idade, gênero, raça, incorporar ao máximo os conceitos éticos, não para se regular fielmente às normas impostas por esta ou aquela instituição, mas sim dentro dos parâmetros do respeito ao próximo, ditados por nossa própria consciência.

O professor e monge Shunryu Suzuki (1904-1971) disse sobre a iluminação: “É um tipo de mistério que para as pessoas que não têm experiência de iluminação, a iluminação é algo maravilhoso. Mas se eles a alcançam, não é nada. E ainda não é nada. Você entende? Para uma mãe com filhos, suas crianças não são nada especiais. Então, se você continuar esta prática, mais e mais você irá adquirir algo nada especial, mas mesmo assim alguma coisa. Você pode dizer ‘natureza universal’ ou ‘iluminação’. Você pode chamá-lo por muitos nomes, mas para a pessoa que o possui, não é nada, e é algo”.

Esteja assim sempre de bem com o seu Agora, com o Presente; respeite o seu semelhante e tenha o especial cuidado de não se apegar às coisas materiais. E procure alcançar o dom de separar o que é do Bem e do Mal e força suficiente para fazer as escolhas acertadas. Conforme dizia o meu pai, Alberto Ribeiro, ao se referir a temas similares, “são estes pequenos acontecimentos que muitas e muitas vezes se transformam em grandes lições de vida. (...) Dou graças ao Grande Arquiteto do Universo, por me ter dado tempo suficiente para refletir sobre estas coisas e mente capaz de assimilar e transmitir para outras gerações essas grandes verdades.


João Ribeiro da Silva Neto


domingo, 21 de julho de 2019

100 anos de Alberto Ribeiro da Silva - mensagem da neta Cristiane


(Mensagem de minha filha Cristiane para o avô, que completaria seu centenário no dia 25 de julho de 2019). Fotografia em Ubajara, de meu pai Alberto e minha mãe Zisile. Ambos nos deixaram fisicamente, mas sempre permanecerão permanecem em nossas mentes.  


Alberto Ribeiro e Zisile - In memoriam
“Vovô Alberto foi um homem incrível, difícil surgir alguém com tamanha simplicidade, inteligência, bondade e humor. Contava uma piada como ninguém e repetia o final pra gente rir tudo de novo! Caridoso em diversos sentidos, exemplo de pai e avô. Marido fiel e amoroso da nossa querida Vovó Zisile, um anjo doce que também já está em um maravilhoso lugarzinho no céu! Brinco muito vezes dizendo que foram online pro bom lugar!

Estar na presença dele era envolvente, sempre com suas histórias, piadas, fazendo palavras cruzadas com sua lupa de lado, que eu adorava brincar, admirador dos pássaros, ficava com seu binóculo na varanda, só observando o comedouro dos bichinhos no jardim que ele mandou fazer. Muitos de seus hobbies acabamos adotando em nossas vidas.

Gostava de mudanças, das mais simples às mais complicadas, mudava os móveis de lugar, inventava prateleiras, elevadores para objetos em roldanas.

Mudou-se de cidade por inúmeras vezes, algumas por necessidade e outras por sua própria vontade, mas sempre desapegado dos bens materiais, dava o que podia para os que conviviam com ele e quando chegava à nova cidade, parece que Deus fazia o seu dinheiro se multiplicar, pois conseguia montar uma nova casa acolhedora, mas sempre com muita simplicidade.

Estudioso em diversas áreas do conhecimento, foi um grande incentivador para a minha formatura em Direito.

Espirituoso em seu jeito de ser, conseguia com seu poder da mente se desligar dos problemas ao ter uma boa noite de sono e no outro dia, na maioria das vezes, acordava com a solução para os entraves do dia-a-dia.

Sempre com seu radinho de lado, pra escutar notícias e futebol e na serra com seu toca discos, fazia a trilha sonora de nossas férias e feriados.

Vovô, ainda comemos muita peta por aqui e “ainda tem mais”!  Kkkkk

Feliz aniversário de 100 anos! A festa vai ser boa por aí, com o filezinho da vovó Zisile e o bolo da Vovó Teresinha! Te amamos e sua lembrança está gravada em nossos corações! "

Cristiane Lima e Silva Torres

sábado, 20 de julho de 2019

O Centenário de meu pai, Alberto Ribeiro da Silva - in memoriam!


A nossa homenagem e gratidão eterna!


Esta é uma homenagem prestada ao meu pai, Alberto Ribeiro da Silva, que no dia 25 de julho de 2019 completaria cem anos de vida. Ele nos deixou fisicamente há dezoito anos, no dia 5 de abril de 2001. Mas a sua presença é constante e firme e ignora as relações de tempo para mim e para muitas pessoas que o admitam. Seus exemplos ficaram e suas marcas positivas de costumes também. Seus conceitos, sempre verdadeiros, foram bem disseminados entre nós, os filhos, suas noras, os netos e netas, parentes, amigos e amigas. Suas lembranças continuam na memória de todos aqueles que fazem parte da grande família Conjunto Big Brasa, que ele tanto prestigiou e nos encaminhou enquanto éramos menores de idade.

Presença firme, na certeza de que tudo deve estar justo e perfeito

Já se passaram dezoito anos que o papai nos deixou. Lembro dele quase todos os dias, muitas vezes em situações que passávamos juntos, tendo em vista que nosso diálogo era muito aberto e franco. O Papai era meu AMIGO. E ele tem estado presente o tempo inteiro em minha mente e na lembrança de todos de nossa família. A Aliete, minha mulher, o teve como seu pai e posteriormente dedicou muito amor à mamãe, Zisile, até sua partida. Assim todos nós - Aliete, Alberto Neto e Cristiane - lembramos tudo o que ele fazia e as lições espetaculares de vida que nos deixou. Estou feliz por ter publicado os escritos dele na internet. Certamente estaria muito satisfeito, pois era avançado e gostava de todas as inovações tecnológicas, chegando ao ponto de prever muita coisa do que ocorre hoje em dia. Na foto ao lado meus pais, que não mais estão fisicamente conosco. 

Ficou conhecido posteriormente como o Mestre Alberto, um orientador espiritual, amante de rock, em especial das canções dos Beatles e dos Rolling Stones, as quais o acompanharam sempre. Gostava muito de acompanhar as tecnologias e constantemente fornecia ideias para inovações no grupo musical Big Brasa, como o emprego de telões, que não existiam na época, mas representativos com “slides” com os nomes das músicas.

Formou-se em Contabilidade e exerceu sua profissão sempre com todo o esmero, nos locais que trabalhou, desde Teresina, com passagem em São José dos Campos, em São Paulo, e depois em Fortaleza, cidade que prestou serviços para empresas de grande porte e depois para a Televisão Educativa do Ceará (TVE). Sempre com muita dedicação ao trabalho e à família, foco central de sua vida. Foi casado cinquenta e seis anos com minha mãe, a Dona Zisile. Tenho extrema gratidão aos dois, pelo incentivo que me deram na Música desde criança e as excelentes orientações de vida deles recebida. Não tinha apegos a bens materiais de qualquer natureza. Gostava muito da simplicidade e procurava se iluminar com os conhecimentos que acreditava serem necessários ao aprimoramento de nosso espírito.

Em Messejana, entre suas atribuições de trabalho na área contábil, foi o apoiador inconteste do Conjunto Musical Big Brasa, que fez sucesso em Fortaleza, Ceará e em outros Estados nos Anos 60, juntamente com sua esposa Zisile. Em sua parte social, foi sócio do Náutico Atlético Cearense, logo que chegamos a Fortaleza e depois sócio proprietário do Balneário Clube de Messejana, que também chegou a integrar a diretoria do Clube, época que lutou contra diversos preconceitos existentes, tais como entrada de jogador de futebol no clube, dentre outros. No Balneário ajudou a elaborar seus Estatutos e contribuiu muito com idéias inovadoras e promoções de festas inesquecíveis, ao som do Conjunto Big Brasa. Todos que tiveram o prazer de conhecê-lo ainda hoje guardam boas lembranças na memória.

Como ele próprio escreveu em um de seus livros, que foi por mim publicado em um blog na internet:

“Meu nome é Alberto Ribeiro da Silva, filho de João Ribeiro da Silva e de Maria Ribeiro da Silva. Nasci na cidade de Balsas, Estado do Maranhão, no dia 25 de julho de 1919. Posso afirmar com toda convicção que tive uma infância bastante feliz. Os meus pais me deram tudo que uma criança pudesse desejar naquele tempo, residindo numa cidade do alto sertão maranhense, cuja ligação, com os meios que se diziam civilizados, era feita através do maravilhoso e lendário Rio Balsas, do qual muito terei que falar nestas notas, visto que está sempre ligado ao coração de todo balsense”.

Uma carta simbólica

Tenho que escrever e registrar também que, após seu falecimento eu escrevi para ele uma carta, no dia 19 de abril de 2001, como se ele pudesse ter lido: 

“Carta ao meu pai Alberto Ribeiro
Ao meu querido pai Alberto

Papai: gostaria que o senhor pudesse ter concluído mais outro livro, conforme era sua pretensão. Do jeito que nós combinamos, todos os textos que o senhor me entregou foram digitados e estava à espera de mais material. Infelizmente não foi possível, mas tudo bem, o que temos é suficiente. Minha saudade agora é enorme e mais uma vez chorei. Não fique triste. Fiquei feliz quando sonhei com o senhor quando, pelo telefone, lhe perguntava notícias e o senhor respondia que “estava tudo bem”, que não tinha acontecido nada, que eu ficasse calmo, pois o senhor estava tranquilo. Saiba que o senhor está agora muito mais presente do que em qualquer dia esteve em nossas vidas. Os seus exemplos de vida sempre serão inesquecíveis para todos nós.

A propósito, estou ainda aprendendo, a cada dia, a pensar e agir que nem o senhor me ensinou durante toda a nossa convivência, onde sempre prevaleceu o diálogo franco e leal de ambas as partes.

(...) Pai: resolvi imprimir todos os artigos em ordem alfabética, pois não pude ter a sua ajuda para decidir como seria o próximo livro seu, os capítulos, a sequência, enfim tudo. Em alguns desses trechos, a exemplo do que aconteceu comigo quando eu os li tive certeza de que seu espírito iluminado brilhou intensamente, deixando aflorar verdades absolutas sobre a vida e outros tantos aspectos que envolveram o seu sentimento de homem correto como o senhor sempre foi. Logo que puder vou gravar no computador, para nossos familiares e amigos mais íntimos, um CD contendo o seu livro, fotografias suas e de toda a nossa família, do Sítio Cristália (em homenagem à Cristiane e Natália, suas netas) e do Sítio Nevada, em Ubajara, Ceará, e nele incluirei também as músicas que o senhor mais gostava. O Alberto Neto, a Cristiane e a Aliete me ajudarão nesta tarefa.

Gostaria muito de poder também, qualquer dia desses, estar ao seu lado, alcançar as graças de Deus que o senhor conseguiu por seus méritos e procedimentos aqui nesta passagem na terra. Eu sei que isso vai ser difícil... Não se preocupe que vamos tomar conta da mamãe direitinho, certo?

Um grande abraço do seu filho que muito o estima. Até qualquer hora e contaremos todos sempre com sua ajuda.
Não esqueça que “continuamos”... , lembra?” (*)

(*) Esta referência “continuamos” é porque ele, ainda quando eu era muito novo, antes de dormir, ainda em São José dos Campos, ouvíamos um programa de rádio e ao desligar ele virava para mim e dizia:  
- “Continuamos” (amigos). E eu respondia: “Continuamos”. E até hoje isso está valendo.
Alberto Ribeiro da Silva escreveu dois livros (Meu Depoimento e Uma Lição de Vida) os quais estão transcritos em um blog que fiz em sua homenagem no seguinte link:  http://albertoribeirodasilva.blogspot.com/

É importante transcrever os textos abaixo, sobre o Mestre Alberto, como ele era conhecido, que foram escritos por Luiz Antônio Alencar, músico do Conjunto Big Brasa e hoje jornalista e a carta a mim enviada pelo amigo Lucius Maia Araújo, hoje auditor federal aposentado e
ex-integrante do Big Brasa, logo após sua partida. 

Depoimento de Luiz Antonio Alencar

Alberto Ribeiro da Silva era, e ainda é uma lição de vida em todos os aspectos. Em tudo que ele fazia e falava tinha um ensinamento embutido, e isso fez com que a gente que ainda hoje faz parte da família Big Brasa (estados de espíritos são entidades que se eternizam) tenha retido lições e posicionamentos diante da vida que ainda hoje em dia norteiam a nossa vida pessoal e profissional.

Particularmente, seu exemplo de vitalidade, entusiasmo, amor e fé, me marcaram até hoje, com a grande máxima de que a juventude se mantém através desses atributos que o Mestre Alberto tinha de sobra. Acreditar no ser humano e amar acima de tudo era o mote do Mestre Alberto. Mesmo com toda a sua sabedoria e prudência, ele sempre deixava o coração falar bem alto, e como falava!

O Conjunto Musical Big Brasa foi um momento marcante na vida de seus participantes e das pessoas que o conheceram, o Mestre Alberto foi o momento marcante e definitivo na vida do Conjunto Big Brasa.  Era uma banda, ou conjunto, como a gente chamava na época, que fazia sucesso no Ceará e em outros estados através de apresentações da televisão, mesmo incipiente e preto e branco na época, mas não menos mágica.

O Mestre Alberto regia mentalmente a banda, uma espécie de maestro atuando em outras esferas da mente e do espírito. Quando passeava pelos clubes em que a gente tocava, simples, tranquilo e despojado e com a humildade das grandes almas, de repente como se tocado por um raio invisível, se transfigurava quando executávamos uma música que o agradava. A banda toda junta não conseguia condensar tanta energia. Era a famosa ágape, que é como os gregos chamavam aquele amor por tudo e por todos que faz arder os seres iluminados.

O Conjunto Big Brasa por conta dele, e das experiências que ele a própria banda em si proporcionaram, se tornou uma grande escola, e o Mestre Alberto sempre será um supremo representante da raça humana, um homem que muito fez, muito construiu, totalmente desprovido do manto de chumbo da vaidade que esmaga a essência de tudo que há de mais belo na alma humana. O Mestre Alberto estava e ainda está acima dessas coisas todas, como filósofo nato e roqueiro honorário e de alma.

Encerrando, eu particularmente prefiro mascarar a triste realidade da partida do Mestre Alberto para outro oriente, achando que ele está mesmo é “no Balsas”, como ele chamava, muito bem obrigado e ouvindo as músicas que o Big Brasa tocava.

“É isso aí, mestre”, como ele falava.

Em outra oportunidade o Luiz Antonio, ao comentar sobre o livro “O Big Bra­sa e Minha Vida Musi­cal – Anos Dourados”, que escrevi, comentou  sua experiência pessoal como músico de música pop dos Anos 60, mas abrange tam­bém uma época consi­derada exuberante na história local e do mun­do, principalmente na área musical. Disse ele, em um extenso artigo que foi publicado na imprensa local, com o subtítulo carinhoso “Um coroa muito avançado”: (...) “O mais curioso é a participação de um senhor de cinquenta anos, o contador Al­berto Ribeiro da Silva, no projeto que envolvia adolescentes e suas tra­vessuras, o que dá um choque de gerações tão comum nos Anos 60”.

Carta de nosso amigo Lucius Maia

“MESTRE ALBERTO ESTÁ VIVO

Caro amigo “Beiró” (João Ribeiro)

Não sei o que te dizer. Mas sinto necessidade de falar o que, de coração, for surgindo dos meus sentimentos. Dá para imaginar, bem sei o que você está sentindo nesse momento e também toda a sua família.

Fiquei muito triste em receber a notícia. O Mestre Alberto, além de seu pai, além de ser o seu grande exemplo de caráter, de bondade e tudo o mais, era e é, realmente, uma pessoa muitíssimo especial. Dessas que, sabemos bem, estão cada vez mais raras de serem encontradas. Nunca me deparei com alguém que, a propósito do Sr. Alberto, não fizesse questão de, sempre, adicionar algum tipo de comentário especial.

Além disso, ele significava, para muitos dos seus amigos – e eu entre eles, um pouco de pai, durante aqueles anos maravilhosos que tivemos a sorte de conviver tão próximos. E isso fica pra sempre. Lembrar dele era como lembrar-se de uma pessoa realmente especial, creia. O tempo que leva para que isso aconteça não é assim muito imediato, pois a percepção gradual e real do significado da perda da presença física é muito, muito difícil.

É um vazio e mal-estar tão grande que a gente pensa que nunca vai se conformar. Mas pessoas como você, e eu, acho, temos uma base emocional e racional bastante elaborada (olha aí a presença deles de novo...) para entendermos o que existe de realmente natural nessas situações. Somos maiores dos que elas e, pela naturalidade do que representam, depois de certo tempo incorporam-se tranqüilamente em nossa aceitação verdadeira. Não há como ver tudo isso de maneira não natural - é tão simples quanto isso, mesmo que posso parecer presunçoso simplificar (no bom sentido) acontecimento tão complexo de nossas vidas.

Quando ainda estão entre nós a gente não costuma perceber o total da importância e felicidade que isso representa  porque simplesmente está tudo bem, tudo normal, ele está ali à disposição, do lado, por perto, presente... E nada mais natural do que seja  assim mesmo.

Quando partem, a sensação motivada pelo carinho e o amor que continuamos a sentir os traz de volta à mente muitas vezes mais do que era antes - eles ficam muito mais presentes, vivos, e os vemos em quase tudo com que nos deparamos no nosso dia-a-dia. A coisa mais comum que me acontece é sempre imaginar o meu papai, nas mais diferentes situações, quanto ao que diria ou faria se por aqui ainda estivesse.

(...) João Ribeiro e família: espero que vocês alcancem o sentimento de resignação que realmente está implícito em algo, infelizmente, tão natural nas nossas vidas. O mistério é muito grande...

Da lembrança que tenho do Mestre Alberto, imagino que ele não gostaria mesmo de ser motivo de sofrimento continuado por parte das pessoas que ele mais amou na vida. O Mestre Alberto considerava que a vida havia sido muito boa para ele. E a vida foi boa para ele principalmente porque ele teve vocês, filhos, netos, esposa, amigos, que ele amava e, sempre, se dava o que tinha de melhor e recebeu também muito em troca. Receba meus sinceros sentimentos, junto com Dona Zisile, Getúlio, Aliete, seus filhos, sobrinhos, primos e demais parentes.

Grande abraço fraterno,
Lucius Maia
     Em 06 de abril de 2001


Textos extraídos do Blog de Alberto Ribeiro da Silva
LIÇÃO DE VIDA

Quando eu era jovem, sempre gostei de proclamar que o maior pavor que tinha era a morte. A lembrança que um dia, mais cedo ou mais tarde eu teria que partir para a grande viagem, era para mim um grande tormento.

Por muitos e muitos anos alimentei esse pensamento, até que um dia, em conversa com uma tia que residia em Balsas, e aqui faço questão de registrar o seu nome: Tia Ritinha, ela tirou da minha mente essa tremenda tolice.

Dizia ela, com a sabedoria e bondade que Deus lhe deu:

- Pois Alberto, abandone de uma vez esse medo que lhe atormenta. Estou completando 75 anos e jamais ouvi falar de uma pessoa que estando determinada para morrer, não morreu porque estava com medo.

Neste mundo não se deve temer nada que faz parte da ordem natural das coisas. A partir daquele abençoado momento, passei a encarar tudo com mais realismo, passei a ver o mundo de outra forma, certo de que não se deve temer um acontecimento que é inevitável, que vem definitivamente para todas as classes, não é privilégio de ninguém.
São estes pequenos acontecimentos que muitas e muitas vezes se transformam em grandes lições de vida. São pessoas como a minha tia Ritinha, que não tinha grandes estudos, jamais cursou uma faculdade, a não ser a escola da vida, mas assim mesmo conseguia transmitir sábios conselhos, como este que acabo de relatar e que muito me tem servido.

Dou graças ao Grande Arquiteto do Universo, por me ter dado tempo suficiente para refletir sobre estas coisas e mente capaz de assimilar e transmitir para outras gerações essas grandes verdades. Obrigado Tia Ritinha, que Deus a tenha em um bom lugar.


O FIM DA VIDA

Extraído do livro de meu pai Alberto Neto


A vida das pessoas eu percebo,
É como se fora um grande “pau de sebo”
Sobe, desce, escorrega e cai,
Tenta de novo, mas vencer não vai.

Eu também sonhei, tive visões,
Desejei subir, chegar ao pico,
No fim da vida verifico
Que tudo não passou de sonhos, ilusões.

Resta-me agora lutar até o fim,
Pra conseguir do bom Deus
Um lugarzinho junto aos seus.

E se não for pedir demais,
Peço também uma vaguinha
Para a Zisile, que também quer paz.

Eu tenho quase toda certeza,
Que soneto isto não é,
Falta rima e beleza,
Não tem cabeça nem pé.

Fica aí pra quem vier
Mangar de mim se quiser.
Fiz o que veio na mente
Meu amigo não esquente. 



Alberto Ribeiro da Silva