segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Eu conheci a Messejana de antigamente!

MESSEJANA, UMA TERRA QUE MUITO BEM NOS ACOLHEU
Partindo de uma conversa com uma amiga, comentei alguns fatos, locais, pessoas e casos desde que cheguei a Messejana, em 1963 e ela sugeriu que eu detalhasse mais. E assim, com o texto anteriormente publicado sobre o tema acrescentei mais algumas passagens e fatos que certamente farão que você embarque em uma viagem a um passado distante, mas ao mesmo tempo inesquecível em nossas vidas. Vamos juntos entrar em uma espécie de Túnel do Tempo! Os itens não estão em ordem cronológica e tem o objetivo apenas de avivar a memória de um tempo realmente muito bom de nossas vidas.  

Seguem-se locais, atividades e pessoas que merecem um destaque especial. Portanto é bom falar de Messejana, uma terra que me recebeu muito bem e que pude curtir tudo aquilo que eu não fazia em São José dos Campos, minha cidade natal, como jogar “bila” (bolinha de gude) em frente de casa ou colocar navios de papel nas enxurradas, perto das calçadas e jogar um futebol com os colegas, além de brincar de cowboy e muito mais, conforme veremos Que tempos inesquecíveis. Apertem os cintos!

UMA VIAGEM DE MESSEJANA PARA FORTALEZA
Quando hoje em dia nós estamos em Messejana e dizemos “Vamos para Fortaleza”, os mais novos estranham e dizem que nós já estamos em Fortaleza. O costume de falar assim decorre da distância entre Messejana e o centro da cidade de Fortaleza, que não mudou até hoje, mas sim as condições da estrada, hoje BR-116, duplicada, que nos tempos mais remotos era uma via simples de mão dupla, muito estreita por sinal.

Quem saía de Messejana em direção à Fortaleza passava pelo Convento dos Capuchinhos, em seguida ficava o bairro Cajazeiras, antes do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), depois um estirão passando pela Cidade dos Funcionários, ponte do Rio Cocó até a Aerolândia (quem não lembra o Clube Recreativo da Aerolândia, o CRA?) e depois o ATAPU, nome que ficou conhecido a entrada para Fortaleza? Pois bem, Atapu era o nome de uma padaria que ficava na esquina da Avenida 13 de Maio, com a Avenida Visconde do Rio Branco e ficou conhecido como referência para muitos. O percurso era demorado. Quando, por exemplo, fui realizar o meu alistamento militar acordei pela madrugada e fui para a pracinha. Dei sinal para um caminhão, carregado de pedra, que vinha de Itaitinga e o motorista me deu carona em cima das pedras. Desci do caminhão no ATAPU e fui andando até o 23º BC ou 10º GO para me alistar. Deu tudo certo, apesar da viagem um pouco sofrida, uma verdadeira aventura. Outra vez em uma greve de ônibus eu estudava no Colégio Cearense. E saímos para Messejana ao final da aula, pela manhã, a pé. Seguimos com muito sacrifício e conseguimos pegar uma carona apenas perto do DNER, que facilitou nossa chegada. Mesmo assim chegamos mais de quatro horas da tarde, exaustos. O ponto mais movimentado dessa viagem de Messejana à Fortaleza ficava nas intermediações da Aerolândia, local onde ocorriam acidentes com mais frequência.

O CLIMA DE MESSEJANA
Parece brincadeira, mas não é. Quando cheguei à cidade de Fortaleza, em 1960, a capital tinha poucos prédios! Descendo da praia do Futuro avistávamos pouquíssimos edifícios, bem no centro da Aldeota. Com essas condições a ventilação se estendia para o sul de forma bem forte e tranquila. Às madrugadas e manhãs em Messejana nós podíamos contemplar até neblina! E quando chovia era para valer mesmo. Na Estrada do Fio se formavam enxurradas e dava para a criançada toda fazer barcos e se divertir muito.

ARES INTERIORANOS
Messejana tinha todas as características de uma cidadezinha de interior. Muito pacata, por sinal. Uma de nossas diversões era brincar de cowboy e jogar botão, mais tarde times de campinho um pouco maiores. No meio da rua o pessoal fazia as traves com tijolos e o jogo se estendia por muito tempo. Detalhe: de vez em quando alguém se abaixava, colocando o cotovelo no chão e apoiando a mão na cabeça, tal qual índios faziam nos filmes, para ouvir o barulho de algum carro se aproximando. E dizia: vem um caminhão aí, pessoal. Uns quatro minutos depois o tal caminhão aparecia ao longe e retirávamos as traves para que ele passasse. Depois disso o jogo continuava no mesmo ritmo.

MUROS BAIXOS E PLENA SEGURANÇA
Os muros das casas eram baixos, não havia cerca elétrica, pichação, nem nada que perturbasse nossas vidas. Muito raramente um roubo de uma roupa estendida no quintal e quando se sabia de uma tragédia, também coisa rara, seria por conta de um afogamento da Lagoa de Messejana. E muita gente ia presenciar a ação de bombeiros para atender a ocorrência. A segurança era tanta que fazíamos já adolescentes serenatas pelas madrugadas, nas casas de nossas amigas ou paqueras, na santa paz. Na realidade assalto era uma palavra quase desconhecida para todos nós.   Até hoje encontro algumas pessoas que dizem ter assistido muito os ensaios do Conjunto Big Brasa do muro!

AS REDONDEZAS DA ESTRADA DO FIO
A famosa Estrada do Fio ficou assim chamada por causa da fiação antiga existente dos tempos do telégrafo! De Messejana, em direção leste, ia sair diretamente no Distrito de Mangabeiras, visto que não havia ainda a Washington Soares, que continua na CE-040 hoje em dia. Quem seguia de Fortaleza para Aquiraz, que foi antigamente uma das capitais cearenses, tinha que passar por dentro de Messejana.  A Estrada do Fio era de piçarra e barro mesmo. Nos invernos ficava mais difícil o trânsito dos poucos veículos e por vezes as máquinas de terraplanagem vinham consertar os estragos, nivelar tudo para o verão cearense. Perto de nossa esquina funcionava a Bodega do Seu Paulo, que também vendia caldo-de-cana e gêneros diversos. Construção bem antiga, balcão de madeira. Lembro que os carregadores de caminhão que por ali paravam e faziam suas refeições, de um detalhe que eu ficava impressionado: eles jogavam uma farinha amarela em cima do balcão, para isolar do fogo e colocavam álcool em cima. Com as chamas baixas assavam pequenos peixes que comiam com banana, farinha etc.

Ainda perto existiam poucas edificações e muito mato, na verdade. Em frente à nossa casa começava um mangueiral, lugar onde começava a nossa caçada de passarinhos. Alguns meninos utilizavam as conhecidas baladeiras para atentar os pássaros. Não havia ainda a consciência de que não deveríamos atirar pedras nos passarinhos... Nossas caçadas às vezes começavam pela manhã, com direito a sair de casa com uma mochila com alguma coisa para comer e água, além do material necessário para a caçada. A região, por incrível que possa parecer, era quase deserta e com muitos terrenos e matagais. E assim nós andávamos quilômetros procurando passarinhos para caçar. Nas chegadas tínhamos que tratar as pernas com mercúrio cromo, cheias de espinhos e arranhões provocados pelo mato. Nunca houve nenhum incidente, por menor que seja.

COBRAS ENTRANDO NAS CASAS?
Muito comum ouvir alguém dizendo: “olha uma cobra ali”, ao que se seguia uma intensa busca para eliminar o perigo. Eram cobras, que de vez em quando entravam em nossas casas! Cansamos de encontrar uma cobra jararaca dentro da casa e sempre alguém dizia: ela deve estar com a mãe, significando que deveria ter outra... Mesmo assim nunca soube de nada grave que tivesse acontecido neste aspecto, tirando o alvoroço e os sustos, é claro.

BRINCADEIRAS DIVERTIDAS
Na primeira semana em Messejana recebi em nossa casa um vizinho, que depois se tornaria um dos melhores amigos de infância. E ele me perguntou, em tom bem sério: - “Você pode me emprestar a estrela de Xerife?” E eu emprestei, para que brincasse de cowboy.  Muitas vezes eu fazia paraquedas com lenços de cabelo da mamãe. Feitos de nylon eram leves e dava para amarrar os fios e fazer paraquedas muito bons. Como pesos eu usava soldados de brinquedo ou simplesmente amarrava umas pilhas de tamanho grande. Assim, os dobrava e jogava para cima para ver o espetáculo. O paraquedas abrindo e a diversão seguindo... Não sei bem se o amigo Ruy Câmara lembra-se disso, tendo em vista que um dos locais de pouso ficava ao lado da casa dele.  

DIVERSÃO GARANTIDA COM A CHEGADA DOS CIRCOS
Acompanhei a passagem de alguns circos em Messejana, com nossa turma comparecendo em peso! As bailarinas nos intervalos circulavam pelas arquibancadas, nos oferecendo suas fotografias em tamanho bem pequeno, para que comprássemos. E todos nós gostávamos muito daquelas lindas artistas trazendo novidade para o nosso bairro. Espetáculos com bons palhaços, trapezistas e até números de mágica e de levitação!

PARQUES DE DIVERSÃO NA PRAÇA DA MATRIZ
Outra atração muito procurada eram os parques de diversão que se instalavam na parte de baixo da Praça da Igreja, no lado da Lagoa de Messejana. Alguns tinham rodas gigantes (não tão gigantes assim), além de brincadeiras como pescaria, tiro ao alvo e também jogos como os de roleta. Eu presenciei uma das vezes o “Dico”, jogador de futebol que gostava de jogar na roleta, verdadeiramente “alisar” o dono do jogo, que interrompeu a roleta antes do horário! O Dico parece que tinha uma técnica especial para jogar ou então conhecia bem as manhas da banca de roleta e acertava bastante. Neste dia ele fez a festa e ficou sendo o nosso ídolo daquele jogo, por ter falido a banca de roleta...  

O POSTO TELEFÔNICO
Praticamente isolada pela falta de telefone, poucas pessoas tinham poder aquisitivo para ter uma linha telefônica em sua residência! Os aparelhos eram aqueles pretos, grandes e tinham uma manivela ao lado que servia para acionar a campainha do posto telefônico. Que tecnologia! E mesmo assim as ligações eram feitas da seguinte maneira: quem tinha telefone em casa levantava o fone do gancho, acionava a manivela e a funcionária do posto telefônico atendia. Então era pedida uma ligação e a atendente dizia que quando completasse nos chamaria. Fornecido o número a ser chamado, era só esperar. Com a ligação completada através de uma mesa telefônica manual e analógica, a atendente chamava o número e dizia que ia passar a ligação. O único telefone perto de nossa casa era o da Dona Nadir, da família Freitas, a qual sempre, gentilmente, nos dava a oportunidade para pedir alguma ligação, assim como mandava alguém para nos chamar quando ligavam para nós. O posto telefônico ficava na Rua Padre Pedro de Alencar, trecho da antiga BR-116, a um quarteirão da Lagoa de Messejana.  As dificuldades de comunicação eram grandes!

O PADRE PEREIRA
O Padre Pereira era o vigário de Messejana nos idos de 1963. Muito espirituoso, inclusive tem algumas passagens conhecidas pelos messejanenses. Uma delas, quando ao reclamar das conversas ao lado da Igreja na hora da missa, no meio de seu sermão bradou: “E Jesus disse aos seus discípulos... Interrompendo: “cala a boca aí fora menino!”, e continuou o sermão normalmente.
Em princípio, como tinha sido coroinha quando morava no bairro 13 de Maio, antes de nossa mudança para Messejana, cheguei a ajudar algumas missas com o Padre Pereira, mas desisti no dia que levei um “carão” dele certamente por ter invertido uma das orações (eram em Latim e a gente conhecia apenas a sequência). Uma hora ele me disse: “Reza direito, menino” e me mandou para a Sacristia. Foi a gota d’água e eu desisti daquela função. 

FUTEBOL NO PATAMAR DA IGREJA
Joguei muito futebol no patamar da Igreja, à noite, com os colegas. Diversão garantida. Quer fosse permitido ou não, o fato é que a nossa turma se reunia acho que nos finais de semana para jogar bola e brincar no patamar da Igreja Matriz, o ponto mais iluminado da área. E assim jogamos inúmeras vezes até que um dia uma pessoa que se dizia agente de polícia entrou no meio de nós e tomou a bola. Fim de jogo e todo mundo correu mesmo. Não lembro se os jogos continuaram no patamar após essa intervenção, mas sei que continuamos a jogar vôlei na pracinha, local onde todos se encontravam muitas vezes.  

BAZAR DA FRANCISQUINHA LUCAS
Localizado perto da Praça da Matriz, ficava na Rua Padre Pedro de Alencar, onde comprei muitas vezes baralhos e outras utilidades. Ali trabalhava uma atendente muito prestativa (a Mazé) e o Pedro Jorge. No bazar tinha de tudo, praticamente. A exposição das mercadorias era enorme e o que se procurasse tinha!

A GARAPEIRA
A garapeira ficava na mesma pracinha da Matriz, mas do outro lado da BR-116, que em Messejana é hoje a Rua Padre Pedro de Alencar. Não lembro o nome do dono, mas a garapeira era localizada próxima do ponto do ônibus de Messejana por algum tempo. O caldo-de-cana e pastel de queijo era o que mais vendia, logicamente.

RODOVIA BR-116
Vale repetir apenas para os mais novos, que a Rua Padre Pedro de Alencar, que passa em frente à Igreja de Messejana, era a rodovia federal “BR-116” naqueles tempos e passava por dentro de Messejana. A duplicação chegou muito tempo depois e durou mais de quatro anos para ser concluída. Trouxe incômodos, é claro, mas foi uma obra muito necessária, tendo em vista que até passou por fora de Messejana diminuindo assim o enorme tráfego no centro do Distrito.

A AVENIDA PERIMETRAL
Quem sabe onde era a chamada Avenida Perimetral? Nada mais nada menos do que a atual Washington Soares. Mas na época era conhecida somente por Avenida Perimetral e quem vinha de Fortaleza para Messejana tinha que passar ao lado das salinas (toda a área onde foi construído o Iguatemi) e depois seguir em frente em uma estreita via muito perigosa à noite, simplesmente por quase não haver fluxo de veículos. Não existia nada mais a não ser terrenos em ambos os lados. Nada de Centro de Convenções, Unifor etc. Em frente dali a alguns quilômetros, tínhamos as Seis Bocas (onde hoje é o Via Sul) e depois Messejana. Bom dizer que existia outra perimetral que ligava Messejana a Mondubim e que hoje se encontra duplicada. Também muito insegura, pelas mesmas circunstâncias. Os carros de polícia, nas eventuais vistorias ou patrulhas em sua maioria eram fuscas, chamados por nós de Tetéus, que são aves que passam a noite acordadas.

LAGOAS DE MESSEJANA E DA PAUPINA
Tomei muito banho na Lagoa de Messejana, tendo acesso pelo Balneário Clube de Messejana, onde em abril de 1967 estreou o nosso Conjunto Musical Big Brasa. Mas também na Lagoa da Paupina! Ambas tinham água limpa e funcionavam como verdadeiras praias para os messejanenses. Além do Balneário Clube de Messejana existia também um pequeno clube, de uma associação (FACIC) na entrada da lagoa da Paupina, que frequentávamos. Alguém lembra a época em que a Lagoa de Messejana transbordou por muitos dias, cobrindo a BR-116 inteiramente? Foi motivo de acompanhamento e observação de muitos messejanenses. 

BALNEÁRIO CLUBE DE MESSEJANA
Foi o Clube onde o nosso Conjunto Big Brasa fez sua estreia, tocando o prefixo And I Love Her, dos Beatles. Eu e meu pai fomos sócios proprietários do Balneário Clube de Messejana. Frequentei o clube muitas vezes e depois passaria a tocar nele, com o nosso Conjunto Big Brasa (inúmeras vezes). O Clube chegou a realizar grandes festas com orquestras do sul do país, renomadas. As tertúlias e as matinais também deixam saudade. Cheguei a tocar até um carnaval no Balneário, com o Conjunto Big Brasa, além das centenas de matinais e tertúlias e outras comemorações.  Vale lembrar o “Coquinho”, um dos garçons gente muito boa que sempre atendia a nossa turma.

RADIOAMADORISMO – o celular de hoje em dia
Quem tinha um aparelho de radioamador em seu carro significava poder contatar muitas pessoas em diferentes situações, em especial nas emergências. Viajei de carro para Brasília, pelo Maranhão, Tocantins, podendo falar com todos os colegas o tempo inteiro, se precisasse. Bastava apenas trocar as antenas. Mas, perto de casa, ainda com estação móvel, existia o “beco”, que hoje é uma rua muito movimentada. O beco, entre a Estrada do Fio e a Rua Manoel Castelo Branco, servia como ponto estratégico muito bom para os contatos locais e com outros países, através do radioamadorismo, por não ter interferências da rede de energia elétrica. Consegui falar com mais de 170 países nesta fase, além de participar da Rede de Emergência do Ceará, auxiliando os órgãos de segurança. Meu prefixo era PT7-JSN e PX7-10.245. Minha estação, potente, chegava com facilidade à praticamente todos os locais. Cheguei a fazer um QSO (contato) com uma cidade japonesa, o que significa que o sinal de rádio foi até a ionosfera, baixou para o oceano, subiu de novo até chegar à outra cidade. O contato foi muito breve porque a propagação caiu, mas recebi a comprovação, com o cartão de QSL do amigo radioamador japonês. Tinha uma antena direcional de 12 metros de largura, que cobria a casa quase que toda. E uma torre de 25 metros para as frequências de 2 metros. Conto estes detalhes para quem usa hoje com os celulares, saber das dificuldades da época e como o radioamador poderia ser útil em várias situações. 

FUTEBOL DE BOTÃO
Jogamos muito, com o Luís Peixoto (irmão das amigas e vizinhas Auristela e Auricélia), Pedro Sérgio e José Wellington, o Sérgio Alves e o Amaury Pontes. Eram partidas animadíssimas, nas quais nós mesmos ao jogar “irradiávamos” o jogo! Os campeonatos eram muito disputados. Ainda hoje tenho um time “Ceará” feito com capas de relógios, nas quais colávamos as fotografias dos jogadores retiradas dos “quadros” dos jornais.

FUTEBOL DE CAMPO
Tive um time! Camisetas brancas, bem simples, pintadas com tinta a óleo preta, com apenas algumas listas transversais. Nosso pessoal jogava no campinho, localizado em um terreno quase em frente à nossa casa. Todos ajudaram a fazer o campinho, com traves e tudo. Alguns times da Paupina apareciam para jogar. Em uma dessas ocasiões o time adversário colocou um jogador bem mais velho do que nós. Deveria ter mais de 18 anos e ficou um jogo desproporcional. Começamos a perder feio. Foi aí que o nosso grande amigo de infância Célio Freitas (in memoriam), entrou em nosso time e conseguimos ganhar o jogo pela participação dele! O Célio e eu, nas férias escolares, jogávamos baralho quase todas as manhãs. Ele tinha uma caderneta e anotava todas as partidas, assinando aquelas que ele ganhava, ou seja, quase todas. Eu voltava para casa frustrado, mas ao mesmo tempo com vontade da revanche no dia seguinte.

O ZÉ DA SENHORA
Quem conheceu o Zé da Senhora? Era um jogador do time Messejana, salvo engano. Quando ganhei meu primeiro violão, não sabia nem afinar as cordas. E fui até à casa do Zé da Senhora por indicação de um amigo. Ele me recebeu em sua casa e com toda boa vontade afinou o violão, passando as dicas de afinação. No outro dia novamente eu estava lá para conferir. E aproveitei para começar a aprender a Marcha dos Marinheiros, que ele tocava muito bem. E assim foram algumas vezes até que eu aprendesse alguns solos com ele. Minha eterna gratidão por essa pessoa amiga!

O BALNEÁRIO CLUBE DE MESSEJANA
Localizado às margens da Lagoa de Messejana, na qual, segundo a lenda, e o escritor José de Alencar, Iracema, a “virgem dos lábios de mel”, tomava banho e saía correndo até a Praia de Iracema, chegando a seu destino ainda com os cabelos molhados, tal a sua rapidez. O Balneário Clube de Messejana tinha uma extensa área verde ao redor do salão, bem arborizada, formando um espaço muito agradável para seus frequentadores. O clube possuía uma arquitetura simples, sendo amplo e bem estruturado, no que se refere ao salão de dança e palco. Deixava a desejar pela precariedade de suas instalações de secretaria, bar e da própria fachada.

A vista do Balneário era muito bonita, tendo como cenário a belíssima Lagoa de Messejana, que às tardes nos proporcionava um pôr-do-sol magnífico, com cintilantes reflexos em suas águas. Nas manhãs dos sábados e domingos, podíamos ver algumas velozes lanchas circulando a lagoa, em passeios que deviam ser muito agradáveis. Naquela época, como ainda hoje, aquilo era privilégio de gente rica. Nossa turma frequentava o Balneário para jogar pingue-pongue, tomar banho de lagoa, jogar bola, paquerar e dançar nas tertúlias. Praticamente toda a pequena comunidade de Messejana se encontrava no Balneário. Todo mundo se conhecia. Vivemos, sem sombra de dúvidas, a fase áurea do Balneário de Messejana. Nessa época tínhamos uma Comunidade, na verdadeira acepção da palavra!

O CONJUNTO MUSICAL BIG BRASA
O nosso Conjunto Musical Big Brasa estreou, com sucesso, no Balneário Clube de Messejana, no dia 28 de abril de 1967, véspera de meu aniversário. Vivemos todos os anos do conjunto, um período inesquecível! O Conjunto Big Brasa completou 50 anos de fundado em abril de 2017. O grupo marcou uma significativa presença na televisão cearense, em bailes e outras apresentações em Fortaleza e pelo Nordeste. Realizamos várias promoções musicais e bailes no Recreio dos Funcionários, no Balneário de Messejana e no Tremendão.  O nosso conjunto Big Brasa chegou a tocar um carnaval inteiro no Balneário Clube de Messejana, ocasião que contratamos instrumentistas de sopro para complementar a orquestra carnavalesca.
O meu pai, Alberto Ribeiro da Silva (in memoriam) também se envolveu muito por Messejana tendo sido diretor do Balneário por algumas temporadas, além de ser o mentor do Conjunto Big Brasa. O Conjunto musical Big Brasa, desde sua fundação, em 1967, promoveu muito Messejana. Foi uma iniciativa pioneira, que deixou uma marca de inventivo para outros jovens. No mês de abril de 2017 completou 50 anos de fundação, um aniversário que foi comemorado em vários encontros musicais, inclusive em outros estados.

AMIZADES DE INFÂNCIA
Faziam parte de nossa turma de amigos e amigas o Aderson Alencar, Diony Maria Alencar, Fernando Hugo Colares, Cesar Barreto, Severino Tavares, Roberto Tavares, David Lélis (in memoriam), Luiz Antonio Alencar (o querido Peninha), Ruy Câmara, Dionísio Alencar, Zé Antônio, Luciano Vasconcelos, Salomão Sales, Rita Porto, Aurélio Barroso, Lúcia Ribeiro, Vera Lucia Colares, Didico, Everardo e Jamson Vasconcelos, “Titico” Benevides, Simone, Paulo Afonso, Célia e Eudásio, Liduína Barroso, Yolanda, João Guilherme, Lucinha, Verônica, Auristela, Auricélia e Socorro Peixoto, Fátima Oriá, Célia Alencar, Pedro Ricardo Eleutério (meu amigo - in memoriam) Chico Zé Alencar, Martiniano Coutinho, Penha Amorim, João Dummar Filho, Adalberto Lima, Carló (Carlomagno Lima (in memoriam) Cida Alencar, Solinésio Alencar, Célio Freitas (in memoriam), Loló e Raimundo José Vasconcelos, Antonio de Miranda Leitão, Chico Zé – in memoriam (do Valdir Bento), Adriana Célia, Rosângela Almeida, Adriano e Rogério Almeida, Clodomir, Edson Girão, Miguel Reinaldo, Luís Antonio Alencar e o Luís Antonio Oriá (Dr. Oriá), que estudou comigo no Colégio Cearense, Inácio Oriá, Pedro Sérgio Melo e José Wellington Freitas de Melo, Célio Freitas e muitos outros que a memória talvez tenha deixado escapar momentaneamente.    

O FUTEBOL EM MESSEJANA
Eram dois times principais, o Messejana Esporte Clube e o Salgado da Gama. Cada um com seu estádio próprio. Nas tardes de domingo era uma das opções. Eu tive um pequeno time de futebol com amigos, dentre eles o Pedro Sergio Melo e o José Wellington de Freitas Melo. Jogamos muito no Copacabana, no campinho, no Messejana e batemos bola no Campo do Salgado. Conheci muito o Pinha (in memoriam), que jogou no Salgado da Gama, no América Futebol Clube e também foi contratado para jogar um período em São Luís do Maranhão, onde fez muito sucesso. Por vezes eu fazia ginástica no América Futebol Clube, quando o Pinha jogava na agremiação. Às vezes também joguei bola no quintal da casa do Fernando Hugo (que ficava ao lado do Banco do Brasil de hoje). Bons e saudosos tempos. Vale mencionar também as partidas de futebol de salão na URJA, sempre disputadas. Há alguns anos, através do Portal Messejana cheguei a fazer uma entrevista com o Dodô, um dos principais jogadores da época em Messejana, que jogou no Salgado da Gama e no Messejana Esporte Clube.

O RESTAURANTE TREMENDÃO
Ficava às margens da Lagoa de Messejana e era um recanto muito agradável. Passou por muitas administrações e hoje se encontra com o prédio praticamente em ruínas e vandalizado. Frequentei o Tremendão dezenas de vezes e realizei o lançamento de meu primeiro livro sobre o Conjunto Big Brasa, em 1999, em uma festa muito animada da qual participaram excelentes bandas locais, como Os Faraós, O Túnel do Tempo, Remember Beatles, O Conjunto Big Brasa, com muitos componentes e Os Rataplans.

A FEIRA DE MESSEJANA
Frequentei e ainda vou de vez em quando à feira, considerada uma das maiores do Ceará. Lá se encontra de tudo! Havia uma loja, localizada na praça da feira, que era do Sr. Alfredinho. Muito boa e cheia de utilidades. Era uma das melhores. A feira expandiu muito e ainda nos dias atuais é muito grande, com uma variedade de produtos impressionante.

SERENATAS
Naquela época em que havia mais romantismo, com músicas que possuíam melodias e letras rebuscadas, fizemos muitas serenatas para nossas colegas, uma época em que a tranquilidade reinava em Messejana e podíamos nos divertir em paz. Fizemos muitas serenatas para as colegas de infância e juventude. Não posso esquecer e destacar um fato pitoresco que aconteceu com nosso grupo de amigos em uma serenata: na casa da família Pompeu, ao tocarmos aquela música que dizia: “Vento que balança, as palhas do coqueiro”... Muito bem, nesta hora o Luciano Vasconcelos subiu em uma das palhas do coqueiro anão, existente no local e começou a fazer uma sonoplastia, balançando as palhas. Não esperava que elas não suportassem e de repente foi ao chão, quando todos riram incontrolavelmente e a serenata se desfez. Uma vídeocassetada, na realidade!  

A FARMÁCIA DO SEU ROCHA
É importante destacar que eu conheci muito o seu Rocha, que era uma excelente pessoa e um farmacêutico que me ajudou muito em minha infância e juventude. Messejana era longe de tudo e pessoas como ele ajudavam a população local demais. Prestou inestimáveis serviços para a comunidade de Messejana. E hoje em dia sou amigo dos filhos dele, em particular o Kildare Rios, um excelente músico. 

O DR. JOSÉ MAURO
Quem não lembra o Dr. José Mauro (in memoriam), um bom dentista que tinha seu consultório na Rua Joaquim Bezerra, na Praça de Messejana. A maioria de nós se valeu dos bons serviços prestados por ele.  

A CRISMALHAS
Conhecemos muito o Seu Vasconcelos (da CRISMALHAS - quem lembra?). Pai do Luciano (Ciano Vasconcelos), Jamson Vasconcelos e Everardo Vasconcelos, todos bons amigos até hoje. Uma curiosidade: estava eu em Manaus, na Zona Franca, quando ao fazer algumas compras eu avistei uma camisa, em um mostruário, que para mim era a mais bonita de todas. Pedi imediatamente para o vendedor me mostrar. E ao examinar a bonita camisa notei a etiqueta, que dizia “Crismalhas – Messejana – Fortaleza – Ceará”. Era uma das camisas que a fábrica usava para exportação! Belíssima.

MATERNIDADE DE MESSEJANA
A Casa de Saúde Maternidade Jesus Sacramentado, ou simplesmente a Maternidade como chamávamos, era praticamente a única solução de atendimento médico em Messejana, tendo em vista que ainda não existiam o Frotinha, Gonzaguinha, as UPAs etc. Todos a ela recorriam para os diversos fins, fraturas, exames, consultas e tudo relacionado à saúde, mas principalmente atendia às gestantes e aos partos. Prestou inúmeros serviços à comunidade messejanense e bairros adjacentes. Localizada na Rua Pergentino Maia e pertencia ao Dr. Parayba – in memoriam.

AS OFICINAS DE CARROS
Temos que destacar as oficinas do Faúna, que ficava na BR-116, quase em frente ao Seminário Seráfico, local que passamos muitas horas para consertar nossos jipes e outros transportes, no início. Havia também a oficina do Zé Amarelim, como era chamado, que ficava perto do posto de gasolina da Família Serpa, embaixo de umas mangueiras. Ali trabalhava o mecânico “Maracanã”, que naquele tempo, quando era chamado para consertar os nossos carros, dizia antecipadamente, sorrindo: “pode comprar um condensador e um platinado”, sem nem verificar o defeito... E todo mundo ria disso.

A DONA CHIQUINHA
Em vez de ir ao Shopping como fazemos hoje em dia, tínhamos a Dona Chiquinha! Ela fazia nossas camisas e calças. E muito bem, porque o seu trabalho era sempre caprichoso e de grande perfeição. Ainda mora em Messejana. E a ela somos muito gratos.

O SEU CAPOTE
Era um bom torneiro mecânico e muito solicitado por todos para os reparos nos motores e tubulações em nossos poços. Possuía as chaves inglesas bem grandes, capazes de trabalhar com canos largos e isso era fundamental.

O FAMOSO “SEU ZÉ”
Andei muito de ônibus com o “Seu Zé” (Zé Bitu), motorista calmo e gente boa, que nos levava ao Colégio Cearense todos os dias. A turma dizia sempre para ele “tira o pé do freio, Seu Zé!”, porque ele dirigia sempre com a velocidade normal e correta! E deixava a gente ir na frente, encostado no motor, quando não havia mais lugar. O Seu Zé, pelos cuidados que mantinha com os veículos que dirigia, era contemplado sempre com os ônibus novos que eram adicionados à frota.

OUTRAS BRINCADEIRAS
- Montamos triciclos, com o Luciano Vasconcelos (junção de duas bicicletas) e conheci um poço que dava vazão a gasolina por um período – (descobrimos o mistério depois: era por conta de um vazamento da bomba de gasolina do pai do Zé Antonio, da Panificadora Nogueira, cujo depósito teve uma avaria e começou a vazar).
- Fazíamos, por pura brincadeira, umas passeatas cantando e segurando velas, como se fosse alguma seita. O Luciano Vasconcelos certamente lembra como eram. Normalmente iniciadas em frente da antiga casa dele, na Avenida Frei Cirilo, até a pracinha da Igreja;
- Frequentei também algumas vezes o Zé Leão para comer bifes com coca-cola;
- Jogava sinuca com colegas e amigos, inclusive o Sr. Crispim (in memoriam), que era o dono da Farmácia) bem em frente onde é hoje a farmácia principal da família; conheci também o Seu Neto (farmácia na pracinha).
- Fui muitas vezes acampar na Abreulândia (era a maior tranquilidade), passei finais de semana na COFECO, fui festas no clube de lá também;
- O barzinho “SUBMARINO AMARELO”, na estrada do fio onde nossa turma se encontrava muitas vezes antes de sair em nossos jipes para passear!

COLÉGIO JOSÉ BARCELOS – O “TREM”
Estudei três anos no José Barcelos. Alguns dos professores que lembro: Isolda (inglês), João Batista (Ciências), Sérgio Benevides, Paulo Aguiar (Matemática), Zuleika Oriá, Bartolomeu Brandão dentre outros. O Sindô (não sei a grafia se está certa) era o vigia e porteiro. A Dona Célia Benevides foi uma das diretoras na época.

A MÁXI INFORMÁTICA
Uma iniciativa pioneira surgiu mais uma vez quando montamos, mais à frente, a primeira Escola de Informática de Messejana - a MÁXI INFORMÁTICA, que atendeu e formou mais de dois mil alunos. Ainda hoje recebemos ligações telefônicas de ex-alunos procurando seus Certificados, uma segunda via, ou mesmo querendo fazer cursos de informática.

O PORTAL MESSEJANA
Criamos depois o Portal Messejana (que é o sítio na internet do Instituto Portal Messejana, que tem a finalidade de divulgar Fortaleza e o Ceará. Atualmente o Instituto Portal Messejana é uma entidade de utilidade pública, uma Associação sem fins lucrativos, reconhecida pelo governo federal, estadual e municipal (uma OSCIP);

MESSEJANA, UMA TERRA QUE MUITO BEM NOS ACOLHEU
É a frase que iniciei este texto e que acrescento novamente ao final. Um abraço aos amigos e amigas e se Deus quiser ainda faremos mais alguma coisa aqui pelo bom distrito de Messejana. 


João Ribeiro da Silva Neto
Em novembro de 2019